Espécies do gênero Helicoverpa podem ser altamente destrutivas devido seu alto potencial de estabelecimento e dispersão, levando em consideração sua alta taxa de fecundidade, hábitos alimentares polífagos, alta capacidade de dispersão/migração dos adultos e além disso, podem apresentar diapausa pupal facultativa em algumas regiões do mundo. O grupo é formado por aproximadamente 18 espécies, sendo que H. armigera, H. punctigera, H. assulta e H. zea são as de maior importância agrícola e, coletivamente, provocam perdas econômicas superiores a dois bilhões de dólares por ano.
Dentre essas, H. zea causa prejuízo em inúmeras culturas como, por exemplo, algodão, milho e tomate. Sua distribuição predominante é na América (América do Norte, América Central e América do Sul). As principais táticas de controle dessa praga têm sido o uso de produtos químicos sintéticos e plantas geneticamente modificadas (Bts).
A utilização de plantas geneticamente modificadas tem contribuído para a proteção contra diversas espécies pragas da agricultura. Porém, devido à expressão contínua da proteína Bt nos tecidos das plantas e a alta capacidade de evolutiva desta praga influenciada por suas características eco-biológicas, pode favorecer uma rápida evolução da resistência, há uma elevada pressão de seleção sobre as pragas-alvo, o que pode favorecer a evolução da resistência caso estratégias de manejo de resistência não sejam adotadas apropriadamente, colocando em risco a sustentabilidade dessa tecnologia. Hábito alimentar bem como características eco-biológicas de pragas encontram-se como alguns dos principais fatores de pragas que influenciam a taxa de evolução de resistência.
Um relato recente publicado na Journal of Economic Entomology reportou a resistência de populações de H. zea a algodão Bt piramidado (que expressa mais de uma proteína inseticida) nos Estados Unidos, através de análises dos danos em maçãs de algodão. Alteração na suscetibilidade à proteínas Bt foi verificada por meio de bioensaios de incorporação da proteína Cry1Ac em dieta artificial. Além disso, foi verificado um aumento recente do número de aplicações de defensivos agrícolas. Vale ressaltar que no Brasil a espécie predominante que tem atacado a cultura do algodão é H. armigera e não H. zea.
Há uma preocupação constante com relação à preservação dessa tecnologia Bt por ser uma importante ferramenta no Manejo Integrado de Pragas. Sua sustentabilidade dá-se principalmente através do plantio de áreas de refúgio. Trata-se de uma área em que não há pressão de seleção exercida pelas proteínas inseticidas, onde indivíduos suscetíveis são capazes de sobreviver e acasalar com indivíduos resistentes provenientes de áreas em que há pressão de seleção (culturas Bt), deixando descendentes também suscetíveis. Além da adoção do refúgio, vale salientar a importância das demais boas práticas de manejo visando uma boa manutenção da lavoura e a longevidade das tecnologias: uso de tratamento de semente, dessecação antecipada, controle de plantas daninhas, monitoramento de pragas, aplicação de inseticidas caso necessário e rotação de culturas. Dentro do contexto de controle químico, é recomendado rotacionar inseticidas com grupos químicos distintos ao longo do ciclo da cultura, minimizando o risco de evolução de resistência à inseticidas.
Para saber mais:
REISIG, D. D. et al. Long-Term Empirical and Observational Evidence of Practical Helicoverpa zea Resistance to Cotton With Pyramided Bt Toxins. Journal of Economic Entomology, 2018.
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