Adaptação comportamental por insetos agrícolas sob pressão de seleção
A traça-das-crucíferas (Plutella xylostella) causa sérios danos às brassicáceas [1], sendo considerada a praga de maior importância econômica para essas culturas no Brasil e no mundo. As perdas ocasionadas por P. xylostella podem chegar a 1 bilhão de dólares por ano. Sua origem biogeográfica ainda é incerta, no entanto pesquisadores suspeitam que essa praga possa ter sido originada na África-do-Sul, Europa ou Leste da Ásia. Atualmente encontra-se distribuída em todo o mundo. Sua rápida dispersão deve-se as características da espécie, como o elevado potencial de dispersão, tanto ativo quanto passivo, e sua capacidade reprodutiva. Devido ao seu elevado dano econômico, o controle químico é o mais utilizado no controle de P. xylostella. Hoje já existem relatos de resistência a 82 ingredientes ativos.
A resistência de insetos pode ser causada tanto por mecanismos fisiológicos, como comportamentais da praga. Resistência de insetos é definida como a redução na sensibilidade de uma praga a um determinado produto expressa pela falha repetida do nível esperado de controle de uma população. Isso ocorre, por exemplo, pela diminuição da taxa de absorção do inseticida, detoxificação metabólica ou por mutações nos sítios de ligação. Já na resistência comportamental, o inseto é capaz de reconhecer a presença de uma determinada toxina e evitar o local. Com isso, modifica sua conduta natural e escolhe outra alternativa para conseguir completar seu desenvolvimento e reproduzir.
No início desse mês, foi publicada na revista PLoS ONE uma pesquisa que demonstrou que as pressões de seleção atuam de forma diferente na seleção de indivíduos que apresentam resistência fisiológica em comparação a indivíduos que apresentam resistência comportamental. Somado a isso, os mecanismos responsáveis pela resistência comportamental variam entre as fases da vida da praga. Uma população com resistência fisiológica simples a inseticidas pode estar sob pressão de seleção mais forte e, consequentemente, ser mais propensa a desenvolver comportamentos de fuga em relação a uma população com níveis mais elevados de resistência fisiológica.
Dessa forma, por meio de estudos comportamentais de uma população é possível caracterizar os efeitos de pressão seletiva causados pelo inseticida, além de ajudar na avaliação do desempenho do produto.
Notas:
[1] Família de plantas às quais pertencem, por exemplo, o repolho, a couve, a couve-flor e o brócolis.
Para saber mais:
Nansen et al. (2016). Behavioral Avoidance - Will Physiological Insecticide Resistance Level of Insect Strains Affect Their Oviposition and Movement Responses?
Carvalho (2008). Plutella xylostella (Linnaeus, 1758) (Lepidoptera: Plutellidae): Efeito da Sinigrina Aplicada em Folhas de Couve e Brócolis.
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